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A Núbia e o Reino de Cuxe


Chama-se Núbia a região ao sul do Egito que corresponde ao atual Sudão, entre a segunda e a quinta catarata do rio Nilo. A Núbia era habitada por um povo negro, os núbios, de origem tão antiga quanto os egípcios.

O território núbio era rico em recursos naturais como ouro, cobre e pedras preciosas. Ali nasceu o Reino de Cuxe, cuja história esteve ligada, desde cedo, ao Egito. Era de Cuxe que os egípcios recebiam grandes quantidades de ouro, marfim, ébano (uma madeira escura e resistente), peles de leopardo, ovos e plumas de avestruz, além de gado e escravos. Essas riquezas atraíram os egípcios, que, em 1550 a.C., conquistaram Cuxe. Por séculos, os cuxitas entregaram seus tesouros naturais como pagamento de tributos ao faraó.


O Reino de Cuxe sob o domínio egípcio


Mesmo sob o domínio egípcio, o governo de Cuxe era exercido por um vice-rei de origem cuxita, escolhido pelo faraó. Sua autoridade e importância eram tão fortes que ele recebia também o título de “filho do faraó”. Os cuxitas adotaram a religião egípcia, os cultos a Ísis, Osíris e Amon, ergueram pirâmides e usaram a escrita hieroglífica. Guerreiros cuxitas lutaram no exército do faraó, onde eram reconhecidos como excelentes arqueiros. Por volta do ano 1000 a.C., Cuxe libertou-se do domínio egípcio, mas as relações entre as duas civilizações foram mantidas.


A Dinastia dos faraós negros


No século VIII a.C., o Egito foi invadido pelo exército assírio. Um grupo de sacerdotes egípcios pediu ajuda ao rei núbio Piye, que expulsou os assírios e tornou-se faraó. Começou, assim, o período conhecido na história egípcia como a Dinastia dos faraós negros (25º Dinastia, de 750 a.C. a 660 a.C.). Os faraós cuxitas mandaram erguer templos e pirâmides na Núbia e no Egito. A capital cuxita, Napata, tornou-se importante centro religioso e ponto de encontro das caravanas comerciais que vinham da África central e do Mediterrâneo. O Estado unificado de Egito e Cuxe tornou-se uma grande potência, cujo único rival era o Império Assírio. Os núbios e os egípcios resistiram aos ataques as-sírios até 660 a.C., quando o exército assírio derrotou definitivamente os cuxitas. O faraó cuxita Taharqa retirou-se para o sul da quarta catarata e nunca mais retornou ao Egito.


Era o fim da Dinastia dos faraós negros. O Reino de Cuxe, porém, não desapareceu. Ele foi reorganizado ao redor da cidade de Méroe, e seu poder estendeu-se por mais mil anos. A 25º Dinastia. também conhecida como Dinastia dos faraós negros, efetivou a união política entre Cuxe e Egito. Durante esse período, houve um grande intercâmbio cultural entre as duas regiões.


Uma nova capital


Méroe, a nova capital do Reino de Cuxe, tornou-se um próspero centro de comércio. Mercadores egípcios, gregos, romanos, persas, indianos, sírios e árabes comercializavam cobre, ouro, ferro, marfim e escravos na cidade. As rotas comerciais ligavam o oceano Índico ao mar Vermelho e o rio Nilo ao mar Mediterrâneo.

Pirâmides no deserto de Méroe, no Sudão


O comércio enriqueceu Méroe, e a cidade foi embelezada com templos, palácios e balneários reais. Costumes cuxitas misturaram-se às influências herdadas dos egípcios, dando origem a uma nova cultura. Deuses cuxitas, como Apedemak, que tinha cabeça de leão, apareciam ao lado de Anúbis e Amon, deuses egípcios. Em Méroe, o cultivo de cevada, trigo, sorgo, pepino, melão, abóbora e algodão era favorecido pelo uso do shaduf, um mecanismo, composto de uma alavanca e um cesto, que recolhia água do rio. Mas o pastoreio era uma das principais atividades desenvolvidas na capital.


Hieróglifos egípcios foram usados para registrar a língua meroíta. Porém, como essa permanece desconhecida, é quase impossível entender o significado dos registros. Para estudar a história cuxita desse período, os historiadores pesquisam a cultura material (como objetos, pinturas e monumentos) e os relatos deixados por outros povos.


O declínio do Reino de Cuxe


A partir do século II d.C., Méroe entrou em declínio. Estudos mostram que o desmatamento para abertura de pastos deteriorou o solo e comprometeu a produção de alimentos. Fugindo da fome e das dificuldades econômicas, a população migrou para oeste e sul de Méroe.

Povos nômades africanos atacaram as aldeias cuxitas e arruinaram o comércio, além de se apoderarem das minas de ouro e esmeraldas. Cavalgando camelos, os nômades podiam agir com rapidez no ataque-surpresa e na fuga para o deserto antes de serem alcançados pela cavalaria cuxita. Em 350 d.C., Cuxe caiu sob o domínio de Axum, reino localizado no norte da atual Etiópia. Axum era, então, o primeiro e único reino cristão do mundo. Os conhecimentos e as técnicas meroítas, contudo, não se perderam. Até o século VI d.C., descendentes meroítas faziam peregrinação aos santuários de Ísis e Amon no Egito.


Originalmente publicado em : https://projetohistoriaweb.wordpress.com/2020/08/07/a-nubia-e-o-reino-de-cuxe/



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