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Maçonaria : O Cadáver


O cadáver é um corpo sem vida de um ser humano ou um animal. Morte é a cessação total e perene da vida do homem de um animal ou um vegetal.

Reconhece-se a morte de um ser vivo, pela parada das funções ativas, como nutrição, metabolismo e no caso do reino animal pelo aparecimento da putrefação.

No caso do homem, mais especificamente, após algumas horas de sua morte, o cadáver fica em rigidez cadavérica, o calor diminui, tendendo igualar com a temperatura ambiente, aparecendo depois no dia seguinte a lividez cadavérica e a seguir manchas violáceas, sinal evidente de putrefação.

É o cessar do chamado sopro de vida que se segundo as concepções e crenças de cada um, provem da natureza ou de Deus.

Para Platão a alma é um principio puramente espiritual imortal, o sujeito do pensamento realmente distinto do corpo. A alma para Platão é o homem.

Já Aristóteles afirma que a alma faz parte do corpo como forma unida á matéria. É o sopro da vida.

Para os escolásticos a imortalidade e a espiritualidade do platonismo são unidas às concepções aristotélicas da forma e a alma se torna uma forma espiritual subsistente.

Modernamente é claro que esta hipótese é contestada por muitos e aceita por outros tantos, o ser humano é constituído de espírito mente e corpo. A mente e o corpo seriam ligados à parte material assim manifestadas e o espírito seria um principio imaterial de origem divina.

As concepções de alma e espírito variam de acordo com a crença de cada um e de acordo com as escolas filosóficas e religiões.

Para os ateus, tudo termina com a morte. Para os espiritualistas, para os que crêem numa vida futura, existe outro tipo de raciocínio e postura a respeito.

Para a maioria dos vivos existe a sensação e a convicção de que a pessoa querida que falecesse, continue viva, de algum modo participando, de forma atuante das atividades aqui na Terra. Na realidade os que cultuam seus mortos acreditam conseguir ou impedir a intervenção dos mesmos em assuntos terrenos.

O culto dos mortos é uma característica que está se mantendo inalterada desde o início da civilização. O Homem tenta buscar desesperadamente respostas, que até hoje não as conseguiu, porque não sabe e não tem explicação para o fenômeno vida e muito menos se conforma porque terá que morrer. Este mistério atormenta o ser humano.

Os antigos já cultuavam seus mortos. Existem inúmeras publicações, verdadeiros livros sagrados, cada qual explicando as características de cada povo. Assim temos o livro dos mortos dos Egípcios, o livro Tibetano dos mortos, o livro dos Maias dos mortos e assim por diante cada povo tem a sua peculiaridade.

É muito complexo o destino do cadáver, mas no mundo atual dada a tecnologia moderna está mais fácil o que se fazer com ele.

Algumas pessoas por vontade própria optam pela cremação sendo a Inglaterra o país onde atualmente mais se crema cadáveres. Os romanos cremavam seus cadáveres. Vale a pena lembrar que crematório é o lugar onde se cremam os cadáveres. Nos campos de concentração nazistas, os prisioneiros após passarem pela câmara de gás, eram cremados. Em Birkenau os fornos estavam preparados para cremarem 12.000 cadáveres por dia.

Do ponto de vista esotérico, isto não se aplica ao genocídio que os nazistas fizeram, a cremação é símbolo de sublimação, em que se destroe o eu inferior para que surja o eu superior, sublimação pelo espírito.

Outros preferem o embalsamamento e os egípcios foram famosos pela sua técnica na conservação de suas múmias.

Há cerca de uma década, um anatomista alemão Gunther Dagens inventou uma técnica, que ele chama de plastinação, que seria uma espécie de mumificação por processos químicos em que ele expõe os corpos sem a pele mostrando a anatomia dos ossos, músculos, vasos etc. Os corpos são apresentados inteiros ou fatiados. Estas preparações anatômicas que deveriam interessar somente aos anatomistas estão em exposições pagas em todo o mundo, e pessoas comuns a estão assistindo horrorizadas, mas por uma curiosidade mórbida, formam-se filas para verem o espetáculo cadavérico.

É costume em muitas faculdades de medicina, todos os anos os alunos que estudam anatomia e dependem da dissecação de cadáveres para aprenderem sobre o corpo humano, mandarem rezar em um determinado dia do ano, a “missa do cadáver” contando com a presença dos alunos católicos, em agradecimento às almas daqueles pobres indigentes, cujos corpos conservados em formol estão servindo involuntariamente á ciência médica nos necrotérios das faculdades de medicina.

Alguns milionários equivocados optam pela congelação na hora do óbito, esperando algum dia através dos avanços da ciência, possam ser descongelados e ressuscitados.

Convém lembrar os cadáveres insepultos que são abandonados nos campos de batalhas, palcos das famigeradas guerras, mas a maioria dos cadáveres, segundo um costume pré-histórico é enterrada no interior da própria terra, em sepulturas as quais tem vários nomes, a saber, cova, campa, carneiro, catacumba, cafofo, jazigo, sepulcro, tumba, túmulo, ultima morada etc.

Os defuntos de famílias mais abastadas são depositados em câmaras mortuárias em mausoléus ou em ricos túmulos. De passagem ressaltem-se as suntuosas criptas onde jazem faraós, reis, papas, milionários etc.

As pompas funerais mais comuns são as que seguem tradição dos povos mais simples, dos pobres e humildes acompanhadas por um séqüito geralmente pequeno e uma cova rasa os espera onde serão inumados, mas nada disso tem a ver com o transcorrer do tranqüilo e perene fenômeno vida/morte propriedade exclusiva da natureza e de Deus.

Todos voltarão ao pó, pobres e ricos, fracos e poderosos, reis e plebeus. Em fim o cadáver é um resíduo carnal podre de uma vida que deixou de existir que a sociedade tem que dar um destino, e o faz segundo a cultura, costume, religião de cada povo, pois o cadáver não poderá ser simplesmente colocado num saco de lixo e levado aos depósitos como um detrito comum. Seria um ato desumano se assim acontecesse.

O cadáver no Brasil, baseado nos costumes vindos de Portugal, onde estas crendices faziam parte de toda a Europa e inclusive da Ásia, acredita-se em certas superstições e crenças, que ainda em muitas regiões do país são seguidas á risca, especialmente pelo povo comum. Recolheu-se algumas destas pérolas do folclore que vale a pena cita-las.

Segundo a tradição, só devem manipular o corpo os que irão vesti-lo, que são as pessoas que entendem deste trabalho. Devem orar antes de vestir a roupa no falecido.

Se o cadáver ficar logo enrijecido, acredita-se que ninguém na casa morrerá brevemente. Se ficar flácido estará prenunciando que alguém da família lhe fará companhia em breve.

O corpo não era antigamente enterrado com objetos de ouro, nem mesmo com os dentes obturados a ouro, os quais deviam ser extraídos para evitar que a alma viesse reclamar a retirada dos mesmos. Costumava-se retirar até os botões e os alfinetes dourados das fardas dos militares antes de inumar seus corpos.

No local de guardamento do cadáver, este sempre deverá estar com os pés voltados para a porta da rua.

Agulhas e alfinetes que tenham servido para fixar a mortalha devem ir com ele, porque o que tocou o cadáver é dele.

Para a alma do defunto não assombrar a casa onde morava, é costume beijar a sola do sapato, a qual deve estar bem limpa, livre de qualquer poeira ou areia, porque se assim não for, sua alma poderá voltar atraída pelas recordações familiares.

Quando alguém morre afogado e ainda não se achou o corpo, costuma-se colocar em cima de um pedaço de cortiça ou até sobre um prato, uma vela acesa, aonde ela parar ali´se encontrará o cadáver.

Entretanto, o cadáver apesar de ser uma matéria inanimada macroscopicamente, e ter uma profunda simbologia entre povos, religiões, e sociedades iniciáticas, ele é em sua decomposição microscopicamente um universo de vida de bactérias que vivem em função desta putrefação.

A Maçonaria em um dos segmentos de sua filosofia estuda a morte e seus mistérios e por isso o simbolismo dos cadáveres tem um valor muito grande em suas alegorias, lendas e mensagens que são transmitidas aos maçons.

Na Maçonaria, quando do passamento de um seus membros, realiza-se uma sessão fúnebre ritualística, decorridos certo número de dias que varia de rito para rito, em homenagem ao Irmão que foi habitar no Oriente Eterno.

Os adeptos da Maçonaria em sua maioria absoluta, não concebem que enquanto um corpo que se desfaz na sepultura, tudo tenha termine aí. Acham que a alma, ou espírito, mente ou personalidade não seja de origem material, e sim espiritual. Não há razão de ser, de se desaparecer tudo o que o irmão falecido tenha sido ou realizado. Não é possível um Irmão sair da cena da vida desta forma. Tem que ficar algo dele, além do nome das boas ações e dos bons exemplos.

Especialmente quando um maçom morre de morte súbita, algum Irmão que tenha conversado com ele minutos antes, não consegue admitir esta perda.

Mas o Homem não quer morrer. Ele não admite morrer, ele quer ser eterno. Muitos poucos querem morrer, alguns admitem que morrerão, mas a maioria deseja sobreviver. Um das saídas foi acreditar que haja uma vida após a morte e também que ele renascerá.

O renascer é a forma que o Homem encontrou e foi obrigado a conceituá-la, adapta-la e aceita-la em função da falta de explicação científica para o binômio vida/morte. É a grande tragédia psicológica do Homem não conseguir penetrar neste mistério existencial.

O ser humano é complexo, e entre a sua complexidade uma delas é ser gregário e ter heróis, ícones enfim alguém que possa servir de paradigma.

 

Qualquer país, povo, sociedade ou agrupamento humano necessita de um mito para sobreviver e a Maçonaria não fugiu a esta regra. Existem muitos tipos de mitos, mas este de morrer para renascer seja talvez o mais importante da humanidade. Sem desrespeitar, ou colidir com os demais mitos, onde as semelhanças são grandes, o cadáver de Hiran na lenda maçônica com sua simbologia tem um papel importante.

Interessante que em todos os tempos, nos costumes de todos os povos existe uma figura arquetípica que tomou entre as variadas civilizações, os nomes de Jesus, Osíris, Dionísio, Átis, Adonis, Quetzalcoalt e outros. Todos estes personagens representam um outro binômio morte/ressurreição. Hiran é o arquétipo da lenda maçônica do terceiro grau.

Todos estes modelos citados foram, na lenda, homens bons, reis, sábios, ou homens simples do povo, ou um homem santo, que se distinguiram pela bondade e pela inteligência e pela liderança. Mas, justamente por serem assim foram perseguidos e assassinados pelos invejosos, egoístas e maus.

É a eterna luta do Bem contra o Mal. O Homem é dual.

A lenda de Hiran foi iniciada no inicio século XVIII, não se sabe quem foram seus autores, levou muitos anos para se firmar com o texto atual, e se tornou a base do cerimonial do 3° grau, em todos os ritos, e ela faz apologia à morte onde o cadáver é um rico elemento simbólico.

Desde os ornamentos em loja de mestre que são de cor escura, como os textos do próprio ritual e outros detalhes deste grau, lembram a todo o momento uma verdade inexorável pela qual os maçons um dia morrerão fisicamente.

O conceito de renascer na Maçonaria acabou até sendo mais abrangente que ligado simplesmente à morte física, pois a Maçonaria transmite em suas mensagens, que seus adeptos herdarão as qualidades do seu ícone Hiran.

 

Ensina-os em vida, que morrerão para o vício e renascerão para a virtude, que morrerão para o mal e renascerão para o bem. Aliás, esta é a principal mensagem da lenda de Hiran.

A lenda de Hiran foi montada, até certo ponto em cima de textos bíblicos, só que o Hiran metalúrgico da Bíblia foi promovido a Superintendente da obra da construção do Templo de Salomão.

As lendas antigas a respeito são muito parecidas. Parece que seus idealizadores mesclaram a tragédia de Osíris-Sól que foi assassinado por seu irmão Set ou Tifão. Pelo menos muitos autores citam esta possibilidade. Mas existem outras lendas que se encaixam perfeitamente na lenda de Hiran.

Como lenda é lenda, não tendo, portanto, o compromisso com a realidade e ao se transformar em mito, vale pelas mensagens, exemplos de vida que esparge sobre os adeptos, não se cogitará, portanto, da veracidade da lenda.

O Hiran da lenda maçônica, mestre de obras do Templo de Salomão, foi assassinado por três maus construtores que se colocaram em locais estratégicos no sul, ocidente e oriente por onde Hiran iria passar e orar. Eles que queriam sem poder, sem ter o direito de saber dele o segredo da construção, ou um segredo representado por uma palavra secreta. Hiran não lhes deu o segredo, por isso foi morto.

Carregaram o cadáver para longe e inumaram-no no Monte Moriá.

Quando Salomão deu pela falta de seu arquiteto enviou quinze oficiais escolhidos entre as três classes de operários que trabalhavam no Templo. A procura durou quinze dias. Encontraram o local onde ele estava enterrado onde havia um arbusto, como em outras lendas semelhantes, só que para a Maçonaria, este passou a ser um ramo de uma arvore de acácia.

A maneira como desenterraram o cadáver é altamente simbólica e é o ponto alto da iniciação ao terceiro grau, onde numa cerimônia ritualística, somente para os iniciados e iniciandos neste grau, são revelados os chamados cinco pontos perfeitos da Maçonaria, que na maçonaria primitiva pertencia ao segundo grau.

Continuando a lenda, Hiran foi por ordem de Salomão devidamente enterrado com todas as honras que lhe eram devidas com a seguinte inscrição no túmulo: ”Aqui jaz Hiran, Grão-Mestre, Arquiteto dos francos maçons”.

Os três assassinos foram julgados e justiçados.

Ainda durante as cerimônias ritualísticas de iniciação ao terceiro grau em determinado momento, um dos Irmãos presentes se coloca imóvel dentro de um esquife representado o cadáver do Mestre Hiran.

No Rito Adonhiramita, no dia da iniciação o neófito é levado a um cemitério onde ele depositará um buquê de flores sobre um túmulo qualquer. Se for católico acenderá uma vela, e orará. Se for de outra religião ele apenas fará uma oração em intenção àqueles restos que jazem naquele local, ou em intenção à sua alma, seu espírito de acordo com a crença religiosa do iniciando.

Depois de conduzido ao templo, será explicado pelo Venerável o simbolismo daquela visita ao cemitério durante a continuidade da ritualística de iniciação, que deverá morrer para o mundo profano e renascer para a vida maçônica.

Como vimos o cadáver, ou a sua representatividade tem na Maçonaria uma simbologia bastante rica.

A lenda de Hiran contém as indicativas das maiores realizações que a Ordem pode oferecer. Ela ensina a adaptação dos maçons, usando sua inteligência aos diversos tipos de trabalho e união das forças sociais.

Ensina também a lei terrível, a lei da besta, aquela que diz que o “iniciado matará o iniciador” onde mostra que todos aqueles que são ajudados por um irmão poderão um dia voltar-se contra ele.

Do ponto de vista alegórico apesar de ser perceber nos textos da lenda algumas discrepâncias, estas fazem parte do acervo simbólico que só o maçom pode discerni-los e enfim transmite a mensagem final clara e vibrante:

MORRER PARA RENASCER

Por : Hercule Spoladore. Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil

BIBLIOGRAFIA

GROf, Stanislav – O Livro dos Mortos – Mitos – Deuses . Mistérios Edições Del Prado – Madri – Outubro.1997 MCKENZIE, John L. Dicionário, Bíblico Edições Paulinas – São Paulo 1984 SPOLADORE, Hercule O Homem, o Maçom e a Ordem. Editora “A Trolha” Ltda – Londrina – Outubro 2005 RITUAIS DO 3°GRAU – DELTA LAROUSSE COLEÇÃO: MITO, HOMEM E MAGIA – Editora Três – São Paulo.

Fonte: JB News

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