top of page

Tolerância Maçônica




INTRODUÇÃO:

Primeiramente gostaria de externar a minha gratidão aos irmãos e ao G.A.D.U., por esta importante oportunidade de aqui poder mostrar o meu trabalho o qual retrata, de maneira sucinta, um pouco das minhas convicções e valores pelos quais eu prezo.

Considero também, que nesta oportunidade, apresento os meus progressos como maçom.

Desta forma, aqui diante dos irmãos, sinto-me, figurativamente falando, diante de um “espelho”. Momento no qual paro para observar a minha imagem e, assim, arrumar as minhas imperfeições.

Certamente não tenho a pretensão de ser perfeito, mas pretendo sempre, como maçom, buscar a perfeição...

A importância da participação dos irmãos nesta apresentação é tal que, com os diferentes pontos de vista e consequentes opiniões, sempre aceitas neste ambiente porque somos tolerantes, faz com que tenhamos visões por diferentes ângulos tornando este “espelho” um maravilhoso e colorido caleidoscópio, rico em informações e completo.

Completo por quê?

Porque a verdade somente existe quando se observa um determinado aspecto por todos os ângulos possíveis. E a TOLERÂNCIA é a virtude que nos permite considerar estes diversos pontos de vista.

Apesar de ser pouco observador, quando morei no exterior e tive oportunidade de conhecer diferentes povos, primeiramente fiquei surpreendido com as semelhanças entre as pessoas.

Contudo, com o passar do tempo, algumas diferenças entre nós, brasileiros, e outros amigos de diferentes nacionalidades passaram a chamar a minha atenção, em especial a forma como tratamos a questão da TOLERÂNCIA.

De uma forma genérica, acredito que nós brasileiros não sabemos lidar com esta virtude e, de fato, desconhecemos os limites tênues que separam a TOLERÂNCIA do preconceito e, por outro lado, da complacência, conivência ou condescendência.

“TOLERÂNCIA” VERSUS “TOLERÂNCIA MAÇÔNICA”

Pesquisando sobre TOLERÂNCIA no mundo profano, vemos que por vezes esta virtude é incompletamente definida. Ao que tudo indica, é uma virtude suscetível a muitas incompreensões ou simplificações.

A definição de TOLERÂNCIA, no Dicionário Aurélio é:

“Tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos.”

No Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, encontra-se a seguinte definição: "Do latim tolerantia, constância a suportar, resistência; paciência. E, de uma pessoa tolerante, diz-se que é alguém que suporta e que resiste. O verbo tolerar vem do latim tolerare, que significa levar, suportar um peso, um fardo, aguentar, sofrer, persistir, suster, manter e resistir.”

Algumas confusões de interpretação fazem com que a TOLERÂNCIA seja até considerada não mais uma virtude, mas sim uma característica pouco desejável.

Exemplos:

"A tolerância é a virtude do fraco." (Marquês de Sade 1740 – 1814, aristocrata francês e escritor libertino)

“A tolerância é a filha da dúvida.” (Erich Remarque 1898 – 1970, escritor alemão)

“Nada é mais lógico do que a perseguição. A tolerância religiosa é uma espécie de falta de fé.” (Ambrose Bierce 1842 – 1913, crítico satírico, escritor e jornalista estadunidense, particularmente conhecido pela sua obra O Dicionário do Diabo)

“Por que tolerar? Parece-me ainda pior do que perseguir. No perseguir há um reconhecimento do valor." (Agostinho da Silva 1906 – 1994, filósofo, poeta e ensaísta português. O seu pensamento combina elementos de panteísmo, milenarismo e ética da renúncia, afirmando a Liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Agostinho da Silva pode ser considerado um filósofo prático e empenhado através da sua vida e obra, na mudança da sociedade)

"Tolerância? Existem casas para isso..." (Paul Claudel - 1868-1955, diplomata, dramaturgo e poeta francês, membro da Academia Francesa de Letras e galardoado com a grã-cruz da legião de honra. É considerado importante como escritor católico)

“A tolerância é o que faz pessoas como EU conviverem com pessoas como VOCÊ.” (Ferris Bueller – série de TV 1990 - 1991)

“Tolerância zero” (expressão originada no filme de 2001 The Believer, escrito por Henry Bean e Mark Jacobson) Desta forma, o conceito de TOLERÂNCIA no mundo profano ou está completamente equivocado, o quer dizer que tolerar não é amar, nem tão pouco apreciar. Tolera-se aquilo de que não se gosta, mas que se é obrigado a aceitar e, na melhor das hipóteses, a compreender, para evitar o conflito e a violência. Assim, estamos perante uma atitude necessária e importante, mas muito insuficiente.

Por outro lado, a TOLERÂNCIA MAÇÔNICA é uma virtude importante e complexa.

A Maçonaria proclama em seus Princípios Gerais (Constituição do Grande Oriente do Brasil, parágrafo único, item III):

“que os homens são livres e iguais em direitos e que a TOLERÂNCIA constitui o principio cardeal nas relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um”.

Assim, a nossa Sublime Ordem é eminentemente tolerante e exige de seus membros a mais ampla tolerância.

No mundo atual, praticar a TOLERÂNCIA a cada dia exige muito de nós, pois a conturbação social e a pressão psicológica exercida sobre o homem, torna-o mais do que nunca exigente, imprudente, agressivo, preconceituoso e até inconseqüente. É nesse contexto, que tolerar assume importância fundamental entre os homens.

Se o profano sente-se desobrigado de praticar a TOLERÂNCIA, para o Maçom o mesmo não acontece, pois tolerar é um dever e este principio está intrinsecamente ligado a um dos fins supremos da Sublime Ordem: A FRATERNIDADE.

O Salmo 133 da Bíblia Sagrada é elogio da concórdia e união fraterna, quando diz:

“Ó quão bom e quão suave é viverem os Irmãos em união”.

A cada dia, nós Maçons temos por obrigação exercitar a pratica da tolerância, o que facilita sobremaneira todo o relacionamento entre os Irmãos, ampliando o espírito fraterno que existe no seio de nossa entidade milenar.

LIMITES DA TOLERÂNCIA MAÇÔNICA

Segundo Aristóteles, na sua obra “Ética a Nicômaco”, as virtudes são limitadas pela sua falta ou pelo seu excesso. Assim, constituindo-se “Vícios por deficiência” ou “Vícios por Excesso”.

No caso da falta da virtude TOLERÂNCIA, incorrer-se-ia no vício por deficiência, classificado como PRECONCEITO.

No lado oposto da escala, em caso de vício por excesso da virtude TOLERÂNCIA, ter-se-ia algumas classificações como COMPLACÊNCIA, CONIVÊNCIA ou CONDESCENDÊNCIA.

A virtude é, portanto, a moderação que existe entre dois extremos excludentes.

Como já exposto, os limites desta virtude não são facilmente definidos, principalmente na vida profana, contudo, tornam-se cada vez mais claros na vida maçônica, na medida em que nossos “valores” são assumidos e cultuados.

Poucos foram os degraus por mim galgados da Escada de Jacó, mas tenho notado nitidamente que estas tênues margens limítrofes da TOLERÂNCIA vão se evidenciando com o avançar dos progressos no lapidar da “Pedra Bruta”.

TOLERÂNCIA: DIFERENÇAS E DESIGUALDADES

Como registra o filósofo espanhol, José Ortega Y Gasset (1883 – 1955), em relação ao sentido humano:

"Vivir es tener que ser unico".

Tal infinita diversidade, no entanto, não pressupõe uma necessária relação de ordem, ou uma hierarquia entre equivalências, como a muitos, muitas vezes, parece natural.

De fato, cada ser humano pode ser caracterizado por um amplo espectro de habilidades, de interesses, de competências, freqüentemente associados à idéia de uma inteligência individual, diretamente associada à capacidade de ter vontades, de estabelecer metas, de criar, de sonhar, de ter projetos.

Distintos indivíduos constituem-se como diferentes espectros, a serviço de diferentes projetos de vida e, em múltiplos sentidos, tais espectros são incomparáveis: É impossível estruturá-los em uma relação de ordem, distinguindo o melhor, o pior, ou estabelecendo uma hierarquia de valores.

Em termos coletivos, portanto, a diversidade é a regra, e a norma é saber-se lidar com as diferenças, tanto individuais quanto entre grupos.

O reconhecimento do outro, ou o reconhecer-me diferente do outro, não me condiciona, portanto, em qualquer sentido, a uma comparação entre mim e ele, da qual resultaria uma desigualdade, um "maior" e um "menor".

Portanto, é da aceitação desta diversidade intrínseca do ser humano, que se resulta o verdadeiro progresso maçônico, uma vez que são consideradas todas as perspectivas, ou seja, a visão pelos mais diversos ângulos.

CONCLUSÃO

É muito fácil ser tolerante com o que não me diz respeito, com aquilo por que não me interesso, ou em relação àquilo que não me sinto minimamente responsável. Basta fechar os olhos, não emitir opinião, não escutar ou tapar o nariz e seguir em frente...

Contudo, ser tolerante implica em ter responsabilidade, saber escutar e, principalmente, respeitar os outros pontos de vista. A TOLERÂNCIA entre IIr:. não é limitada apenas pelo relacionamento com o próximo, mas por um sentimento maior que leva o homem ao bem e ao progresso.

É uma virtude que deve ser exercitada para que se atinja a sua plenitude. É a lapidação da Pedra Bruta para se chegar à Pedra Polida. Como mostrado, a TOLERÂNCIA MAÇÔNICA depende de valores, com isso ela pode ser aprimorada e ensinada. Portanto, é um dever para nós Maçons, o aprimoramento e a disseminação da virtude TOLERÂNCIA no nosso meio e na sociedade.

Nilson Perini ARLS 20 de Agosto, nº 2408, GOB/GOSP, São José dos Campos, SP

BIBLIOGRAFIA

Livro "Aconteceu na Maçonaria" de Alci Bruno, Editora A Gazeta Maçônica - 1ª edição - outubro/1996 Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Cinco Volumes. Lisboa: Livros Horizonte, Machado, J.P. /1977 Livro Nicomachean Ethics (Tradução, introdução e notas de Terence Irwin). Indianapolis: Hackett, Aristóteles / 1985. Trabalho do Irmão Paulo César Monteiro de Castro M:.M:. apresentado na A:.R:.L:.S:. 20 de Agosto, título: “Virtudes e Vícios” Constituição do Grande Oriente do Brasil, edição 2007

SITES INTERNET:

11 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page